
Textos produzidos pelos alunos da disciplina Jornalismo Cultural na Facom UFJF sob supervisão da Professora Dra. Christina Ferraz Musse
Blog feito por Carla Baldutti
Tradicional livraria dá lugar a lojas de comércio
por Maria de Lara Wille
No início da década de 1970 surgiu, em Juiz de Fora, a Livraria Península, situada na Galeria Hallack, no Centro da cidade. Fundada por dois irmãos de origem italiana, Salvador e Walter, a livraria se tornou fundamental como parte da cenário literário da cidade, como uma de suas maiores livrarias. Sua importância é reconhecida até os dias atuais, pois, sempre foi responsável por promover diversos debates sociais com artistas renomados da Literatura Brasileira.
Marcador de livro da Livraria Península
Fonte: Blog Maurício Resgatando o Passado
A fim de atender à demanda de um grande público leitor, os livros recém-lançados rapidamente chegavam à loja. Sua estrutura facilitava também o atendimento não só aos adultos, mas às crianças, já que havia uma escada, enfeitada por pegadas, que dava acesso ao porão, lugar onde ficavam os livros infantis, despertando assim o interesse dos jovens leitores. O ato de leitura, mais que uma forma de adquirir cultura, se transformava, assim, em diversão e encantamento.
Prova de sua popularidade foi a presença ilustre do ex-presidente da República, Itamar Franco, um de seus frequentadores mais assíduos, principalmente na época em que era prefeito da cidade. Esse fato rendeu uma visibilidade nacional à livraria na entrevista concedida por Salvador para a imprensa, a respeito das leituras preferidas do então presidente.
Em meio de todo o seu renome, ao longo do tempo, a livraria ocupou diversos espaços diferentes na cidade, até encerrar suas atividades no andar térreo do Edifício Brumado, localizado na Avenida Rio Branco.
Hoje, ao mesmo tempo em que o número de estabelecimentos culturais diminuem na cidade, lojas de comércio não param de surgir. Grande exemplo disso é a loja Rio Shoes, uma sapataria, que ocupa hoje o lugar em que a Livraria Península possuía na Galeria Hallack.
Fachada da sapataria Rio Shoes na Galeria Hallack.
Referências:
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6586719
http://mauricioresgatandoopassado.blogspot.com/2016/02/lojas-0-fotos.html?m=1


Livraria Península e sua herança enriquecedora de cultura
por Maria de Lara Wille
Em uma época onde as pessoas se preocupavam mais em adquirir cultura e debater sobre sua importância, a Livraria Península se consolidou. Sua ausência deixa um espaço enorme, pois foi de suma importância para que a bagagem cultural de Juiz de Fora fosse formada. É lastimável que a geração de hoje não tenha vivenciado a valorização da cultura em seu ápice.
Em uma breve entrevista, o ex-funcionário e irmão de Salvador, antigo dono do estabelecimento, Walter Pecci Maddalena relembrou suas experiências na memorável livraria. “A gente fez um trabalho que até então as outras livrarias não faziam, que era promover a vinda de escritores à cidade, e não só para fazer lançamento, levando nos colégios também para fazer debates com os alunos”, recorda-se Waltinho.
Em meios aos livros é onde Waltinho se encontra, paixão que o acompanha até hoje.
Com um trabalho que se estendia além das paredes da livraria, o público era sempre muito presente. “Naquele tempo, fazíamos lançamentos e a presença do público era muito grande. Tivemos aqui, na época em que ele fazia muito sucesso, o Carlos Eduardo Novaes, cronista do Jornal do Brasil, pra lançar um livro e foi grandiosa a participação maciça das pessoas, feita no corredor da Pró–Música, na Rio Branco. Mais de 300 livros vendidos.” Grande exemplo da articulação entre os leitores e o autor.
Waltinho destaca ainda a relação corrompida que existe hoje entre a nova geração e a leitura. “Hoje esse movimento das pessoas com a literatura e os livros diminuiu muito. Infelizmente ocorre isso e não deveria ocorrer. As pessoas não estão mais valorizando o que deve ser valorizado. A geração de hoje é uma geração muito alienada na questão de leituras”. E, quando é perguntado sobre livros que fizeram muito sucesso, fala sobre o livro que Fernando Gabeira lançou após voltar do exílio na época da ditadura militar, O que é isso companheiro?, O grande mentecapto, de Fernando Sabino, e ainda o Dicionário Aurélio.
Em meio a esse passado enriquecedor, fica explícito em como exercer a memória sobre toda a influência cultural que a Península possibilitou, faz com que se reflita sobre a forma em como a cultura vem sendo desvalorizada.

Livros, livres
por Maria de Lara Wille
Sempre encarei a leitura com os olhos de uma criança recém alfabetizada que está encantada e curiosa ao desvendar tudo o que lê. Nem sempre gostamos do que descobrimos ao ler certos textos, nem sempre nos identificamos com o pensamento do autor e nem sempre estamos dispostos a querer entender o que nos é dito através das palavras. Porém, menosprezar o que o mundo da leitura tem a nos oferecer é, de certa forma, não querer encarar a vida como ela é.Ao ler um livro, me sinto em total conexão com o universo que vai se apresentando pouco a pouco para mim. A geração mais nova que, praticamente já nasce com o manuseio de smartphones, raramente saberá como é gostosa a sensação de ter um livro em mãos, sentir seu cheiro e acompanhar seu desenvolvimento através da leitura.
Estar atento às palavras é como estar atento aos pequenos detalhes e você jamais os descobre se não estiver preparado para encará-los. A leitura jamais mudará a vida de alguém que não a valoriza e não reconhece nela uma chance de mudar a perspectiva do mundo em que vivemos. O poder de transformar só é alcançado dentro de nós a partir do incentivo àquilo que nos faz melhor, como um livro.
Que as livrarias continuem nos livrando das amarras que nos impedem de prestar atenção ao que precisa ser lido. Que sejamos livres para encarar a importância do saber e que jamais nos falte a curiosidade de uma criança que recém descobre algo novo.
Sobre as surpresas que a vida nos prega
por Maria de Lara Wille
Nunca estamos preparados para lidar com as mudanças que a vida nos proporciona, e confesso que começar a vida em uma nova cidade, aos 18 anos, foi um enorme desafio pra mim. Saí do interior do Rio de Janeiro e me mudei para Juiz de Fora em busca do sonho de me tornar jornalista. E cá estou eu, exatamente um ano depois, relatando uma das muitas vivências que me aconteceram nesse curto período de tempo.
Recebi a missão de pesquisar sobre a memória dos espaços culturais da cidade, especificamente às livrarias em Juiz de Fora. E lá fui eu, para o Centro da cidade, em busca de alguma fonte que me relatasse algo sobre a Livraria Península. Andando de um lado para o outro, sem saber muito por onde começar, acabei indo até a Biblioteca Municipal a fim de achar alguma pista sobre a tal livraria. Primeira tentativa falha. Ali eu me vi perdida de novo, até que a atendente levantou a possibilidade de estabelecer contato com o irmão do antigo dono. Me explicou mais ou menos aonde atuava seu atual sebo, e eu, sem fazer a mínima ideia de como chegar lá, fui “na cara e na coragem” com a minha amiga. Aliás, preciso ressaltar que sem ela do meu lado essa aventura talvez não tivesse dado certo.
De volta ao Centro, naquele labirinto de sebos e pessoas desconhecidas, íamos de porta em porta. E a cada explicação sem sentido, com um sorriso amarelo no rosto, destemidamente tentávamos desvendar as informações. Percebo agora que essa busca também foi um processo de mexer com a memória das pessoas, já que a cada novo estabelecimento uma breve contextualização sobre a livraria e a pessoa que eu procurava era feita. Muitos não sabiam ou não se lembravam, e eu pude fazê-las recordarem ou descobrirem parte da memória cultural da cidade.
Depois de algum tempo, eu e minha fiel escudeira conseguimos achar o tal local. Escondidinho, no canto esquerdo da Casa D’Itália. Despretensiosamente cheguei ao local e já fui logo perguntando para o homem que estava lá sobre o Waltinho, personagem principal da minha matéria. E, para a minha surpresa, era ele. Fiquei em êxtase, acho que não consigo descrever com clareza toda a empolgação que tomou conta de mim.
É curioso em como pesquisar a memória é capaz de mudar a nossa vida no presente. Às vezes, a gente procura e dá a sorte de encontrar o que faltava. Quando é pra ser, não tem jeito. A nossa curiosidade é capaz de nos mostrar caminhos que, sem tal interesse, não conseguiríamos trilhar.
Livro Físico vs Livro Digital
por Maria de Lara Wille
O “Aparelho Elétrico” é um site que tem como objetivo informar, qualificar e inspirar microempreendedores criativos. Sua plataforma oferece artigos, notícias, cursos, livros e aconselhamento para o direcionamento empreendedor e, ainda, disponibiliza toda semana um podcast que contém uma temática específica, voltada para as boas práticas de empreendedorismo.
De uma forma bem didática, a pauta da vez é a questão do Livro Físico vs Livro Digital e as vantagens e desvantagens de cada um. O podcast é comandado por Henrique Pochmann, proprietário do site, e duas convidadas, Carol Machado, redatora, revisora e dona do blog “Revisão para quê?”, e Giovanna Beltrão, jornalista especialista em processos e produtos criativos, responsável pelo campo de notícias do site.
No início da conversa, os três dão suas opiniões pessoais sobre qual forma de leitura mais se adaptam. Henrique Pochmann comenta que, antes de uma viagem, era muito mais ligado ao meio digital e que, agora, levando para o lado mais “romântico”, vê o livro físico com muito mais prestígio. Já Carol Machado e Giovanna Beltrão divergem entre si; a primeira utiliza mais e melhor o livro digital, enquanto a segunda, como pesquisadora, fica em cima do muro, pois defende que ambos têm vantagens.
Questões ambientais também são levantadas, pois, por mais que o livro digital pareça ser “ecologicamente” correto, sua construção gera alta emissão de CO2 e necessita de recursos como a recarga elétrica; enquanto o livro físico, que pode ser reutilizado por outras pessoas, também gera um desequilíbrio por causa da produção de papel, em alusão ao desmatamento.
A crise nas grandes livrarias revela um modelo de negócio que já não está mais dando certo, e o sucesso da Amazon, além de explicitar isso, aproxima cada vez mais o leitor da era digital. Por exemplo, hoje em dia comprar um livro, seja ele digital ou físico, pela internet é muito mais rápido e barato;mas, por outro lado, requer uma espera maior, já que o livro demora alguns dias para chegar, diferente de comprar um livro na loja física.
Porém, a comodidade ainda faz com que os leitores adquiram um dispositivo de leitura para livros digitais, pois possuem configurações voltadas para uma melhor experiência de leitura como luz baixa, ausência de notificações que podem tirar a concentração do leitor (o que acontece quando tablets são usados, por exemplo) e uma espessura fácil de manusear e conservar.
Enquanto os livros físicos são mais difíceis de conservar e precisam de uma atenção maior em relação à limpeza, eles têm a seu favor, um estudo publicado pelo jornal The Guardian, em 2014, afirmando que os leitores de Kindles absorvem menos conteúdo que os leitores de livros físicos.
Questões como espaço também são abordados, e em meio a tantas vantagens e desvantagens, Henrique Pochmann termina dizendo que a conversa mudou sua perspectiva em torno dos livros digitais e suas convidadas permanecem, contudo, com a mesma opinião.
Link do podcast: https://aparelhoeletrico.com/podcasts/podcast-livro-fisico-vs-livro-digital
Dica de livro para o Especial de Cultura da Rádio Facom
por Maria de Lara Wille
Acessibilidade
Técnica: Vinheta arte e cultura-12”
Apresentadora: Olá ouvintes, está no ar o Especial de Cultura da Rádio Facom, sobre produções culturais da cidade. A dica de hoje é da estudante de jornalismo cultural Lara Wille, que vai falar sobre livrarias. Oi Lara, o que você traz de dica pra gente hoje?
Repórter: Oi ouvintes da Rádio Facom. Minha dica de hoje é a leitura do livro Juiz de Fora apresentada por Pedro Nava de 2017. Escrito pela pesquisadora, escritora e professora Ilma Salgado, a obra reúne trechos de obras do próprio Nava, além de citações a outros autores locais, para recriar uma cidade que não existe mais.
O livro é uma edição ampliada do trabalho que Ilma lançou de forma independente em 2003, no centenário do nascimento de Pedro Nava. Em 2012 modificou o que era preciso até conseguir a aprovação da Lei Murilo Mendes para publicar.
Apresentadora: E porque você indica esse livro?
Repórter: Acho bastante interessante que a obra correlaciona a biografia de Nava com observações escritas e descritas da cidade ao mesmo tempo em que o texto da autora contribui para o conhecimento sobre o livro. E também estão presentes 8 recortes que contam sobre elementos cruciais que fazem parte da história de Juiz de Fora, como Henrique Halfeld e as Elites e a Política.
O livro tem muitas fotos e curiosidades como a presença de bondes, por exemplo, que nos ajudam a imaginar, de fato, como Juiz de Fora era no passado e o quanto Pedro Nava contribuiu para a narrativa da cidade.
Vale lembrar que o livro -Juiz de Fora apresentada por Pedro Nava- está disponível na Internet no site editar.com.br, repetindo editar.com.br, por quinze reais. E, sem dúvidas, indico para quem gosta de história e tem o desejo de se aprofundar um pouco mais sobre a cidade em que mora. Lara Wille para rádio Facom.
Apresentadora: Muito obrigada Lara. O especial de cultura da Rádio Facom fica por aqui. Até a próxima dica.
Técnica: Vinheta 103,9FM-5”
A crise nas livrarias no século XXI
por Maria de Lara Wille
As livrarias que tradicionalmente conhecemos, estão enfrentando uma séria crise. Um exemplo disso são os recentes pedidos de recuperação judicial de duas das maiores redes de livrarias do país, Livraria Cultura e Saraiva. Ambas com dívidas na casa do milhão, estão fechando suas portas.
Gradativamente, estabelecimentos como esses vão desaparecendo sem que a gente se dê conta. Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com dados do Ministério do Trabalho, mostra que o número de livrarias e papelarias em funcionamento no Brasil encolheu 29% no período de 2007 à 2017.
fonte:CNC
Com o passar dos anos, vamos nos distanciando do mundo que conhecíamos. Hoje os processos estão mais modernos, a informação circula mais facilmente e por isso, mais pessoas ganharam acesso à ela, de diferentes formas. Você pode ler e saber sobre tudo o que quiser na palma da sua mão. Por exemplo, sete em cada dez brasileiros usam as redes sociais para se informar, segundo um estudo recente da Hello, agência de pesquisa de mercado e inteligência.
Talvez o caminho para a reinvenção das livrarias, seja incentivar a leitura e fazer dela um hábito, retornando a experiência única de estar em um lugar de encantamento e reconstruir, dessa forma, tudo o que ela já significou para tantas pessoas que por elas passaram. Exercitar a memória ajuda, nesse caso, a construir formas de sobrevivência na era da tecnologia.
