top of page

Projeto leva os cinemas de rua de Juiz de Fora ao Youtube

O canal, criado por Valéria Fabri, leva aos seus espectadores as histórias dos antigos Theatros

por Isabella Barros

Os cinemas de rua de Juiz de Fora foram partes marcantes da poesia da cidade, apesar de hoje não estarem mais presentes, em sua maioria, eles envolveram a cidade com boa cultura por muitos anos. E, não é por não estarem mais “vivos”, que foram esquecidos pelos seus antigos admiradores, os quais, inclusive, sofreram com seu fim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para contar um pouco sobre a história desses cinemas de rua, como surgiram, o seu legado, a sua marca; a então mestranda, Valéria Fabi, produziu e publicou, em 2016, uma coletânea de vídeos sobre os cinemas de rua de Juiz de Fora. Um projeto que pretendia resgatar a memória audiovisual do município, rendeu 7 vídeos produzidos e editados por Valéria, todos eles presentes no canal do YouTube: “Cinemas de Rua de Juiz de Fora”. O canal fez parte do projeto de pesquisa desenvolvido pelo grupo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o ComCime - Comunicação, Cidade, Memória e Cultura - coordenado pela Profª. Drª. Christina Ferraz Musse.

A história já se faz presente desde o primeiro episódio da websérie criada por Valéria, quando é dito que, a primeira exibição cinematográfica do estado de Minas Gerais foi feita em Juiz de Fora, em 1897. Também, é possível notar, pelas conversas com os entrevistados do projeto, a diferença da forma de ver cinema; um deles, o comerciante João Golçalvez, diz ser apaixonado por cinema, ao ponto de que, à época, via o mesmo filme diversas vezes, era um costume: “Meu irmão viu Amadeus 14 vezes”, e ele mesmo conta que viu “E o Vento Levou” 10 vezes, filme que estreou no Cine Palace e que fez filas quilométricas no dia de sua estreia.

Os cinemas tratados na websérie do projeto são: Cine Palace; Cine-Theatro Glória; Cine-Theatro Central; Cine Festival; Cine-Theatro Popular.

Minas é Cinema!

Projeto da UFJF mapeia as atividades cinematográficas do Estado

por Isabella Barros

Minas Gerais produz muito cinema, uai! Isso fica muito claro quando vemos a dimensão de projetos como o Primeiro Plano, o festival de cinema de Juiz de Fora e Merocidades, ou a Cine OP, a mostra de cinema de Ouro Preto, ou a Mostra de Cinema de Tiradentes, entre outros. Para agregar ainda mais, há também, um projeto chamado “Minas É Cinema” que busca estudar e mapear a atividade cinematográfica do Estado de Minas Gerais.

O projeto advém do grupo de pesquisa “CPCine: História, Ética e Narrativas em Cinema e Audiovisual”, o qual é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens (PPG-ACL), do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O grupo é constituído por professores do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do PPG-ACL, como também, por alunos da Universidade. Além disso, o projeto ainda faz parceria com o Laboratório de Narrativas Audiovisuais, o LANAV, que realiza entrevistas com personalidades do cinema mineiro-brasileiro.

Minas É Cinema tem como objetivo fazer um mapeamento da atividade cinematográfica de Minas Gerais, qualificando a produção, exibição, distribuição e filmes, recepção, produção crítica e, também, as publicações sobre cinema. A primeira parte do projeto faz o levantamento, exatamente, dessas publicações periódicas na Zona da Mata Mineira, com o recorte temporal dos primórdios do cinema no Brasil (1857), até a década de 1960.

Por ter uma produção muito grande e ser um trabalho muito amplo, foi decidido estudar por partes as pequenas regiões dessa Zona da Mata. Na primeira parte do projeto, foram estudadas as cidades: Juiz de Fora, Muriaé, Cataguases, Carangola e Leopoldina. Finalizado esse começo, agora parte dos estudos permanecerão em Juiz de Fora e a outra parte percorrerá por: Cataguases, Ubá, Além Paraíba e Araxá.

Luís Rocha Melo, professor e pesquisador do projeto Minas É Cinema, aponta que o projeto surgiu de uma necessidade dos pesquisadores de fazer um mapeamento de dados e outras informações a respeito do cinema no Estado, um trabalho que, como ele mesmo diz, pode converter em trabalhos futuros sobre o acervo, sobre o cinema por outros pesquisadores e, também, pelos alunos que participam do projeto como bolsistas.

Link para vídeo institucional do Minas É Cinema: https://www.youtube.com/watch?v=aXcFPGSzJFU

O que me faltava

 

por Isabella Barros

Apenas mais um daqueles dias que você acorda e sente algo faltando, não sabendo exatamente o quê. Vai pro trabalho, volta mais cedo pois é sábado. Sábado. Um dia claramente feito para não se fazer nada, ok, muitas pessoas consideram o dia oficial da semana de poder fazer festa, ele até pode ser esse dia às vezes, mas não hoje. Hoje, almocei minha marmita, peguei o 535 para chegar em casa, fui pelo caminho mais longo, o motivo? Nem eu sei, talvez a vontade de permanecer observando a cidade por mais tempo, talvez querer ficar sentado mais um pouquinho no banco enquanto espero.

Neste dia eu li, li o livro que anda na minha bolsa há meses mas eu não tenho tempo de ler, só no ônibus, e, mesmo assim, há dias que minha vista está cansada demais para fazer qualquer esforço, ler qualquer coisa. Hoje foi um desses dias. Nabokov me parecia lento, exaustivo enquanto descrevia as possessões do duplo Humbert por Dolores. Desisti de ler. Permaneci a observar a cidade mas algo ainda me faltava.

Desci do ônibus, caminhei a Silva Jardim acima, estacionei no sofá e nada. Não era de descanso que eu precisava, alguma coisa ainda me faltava. Desbloqueei o celular na esperança de que algo magicamente aparecesse para satisfazer meu vazio de nada. Há uma mensagem para você. Era meu amigo, convidando-me para ir ao cinema… Seria isto? Seria exatamente isso que me faltava?

Corri para tomar banho, tirar a cara de proletariada e conseguir pegar o horário das três da tarde. Andei à passos largos pela Santo Antônio, logo depois a famosa Halfeld em direção ao Cine Palace, o último cinema de rua de Juiz de Fora ainda aberto. Já baqueado pelo tempo, em comparação aos seus anos de ouro, onde todas as salas lotavam. Comprei a pipoca, com manteiga por favor, e esperei meu amigo. Enquanto parada, aproveitei para olhar os filmes em cartaz, também, tive de comer a pipoca, porque pipoca de cinema tem um cheiro irresistível.

Meu amigo chegou, assistimos o filme. Muito ruim. História tosca, edição mal-feita, personagens sem conexão. Acho que todos saíram decepcionados daquela sessão. Apesar disso, aquilo era exatamente o que me faltava. Sair de casa, comer bobeira, distrair, mesmo que por poucas horas, da correria da vida a poucos passos de distância. O filme foi ruim, mas ele ser bom ou não fez pouca diferença. De qualquer forma, saímos do cinema sem conseguir parar de falar dele, e de todos os seus problemas.

Isso era o que me faltava naquele dia, sair sem preocupações, assistir o filme e me concentrar nele, rir das cenas ruins, comer pipoca e estar com uma pessoa que gosto. Eram esses momentos que eu precisava. Voltei para casa e dormi.

Reminiscências

 

por Isabella Barros

Entendo que o tempo passou, as ruas não são mais as mesmas, muitos dos que conheci foram embora, e mesmo dos que não conheço, todos, tudo está diferente. Acordo e, como todos os dias, saio para passear com Capitu, caminhamos calmamente pela Santo Antônio até nossa padaria de sempre para tomar café, todos já nos conhecem e sabem nossa rotina. Ando pelas ruas, mas parece que minha memória falha ao lembrar delas, tanto se mudou, prédios novos ocupando o lugar daqueles que costumavam emoldurar meu dia.

Lembro-me que há poucas ruas abaixo de onde estava com Capitu, havia um cinema, todos amavam ir lá, em dia de estreia dava fila. Quando tinha dinheiro, ia sempre no cinema, nem que fosse para ver a mesma história... O melhor de ir não era o filme em si, o filme ser bom era um bônus, o que tinha de melhor era poder estar com as pessoas que gostávamos, nossos amigos e amores. Era tanta a conversa antes e depois da sessão, ficávamos por horas a comentar a história, os atores e os diretores que mais gostávamos.

Em uma dessas idas ao cinema que conheci minha olhos de ressaca, logo na estreia de E O Vento Levou, mal me lembro do filme para ser sincero, passei todo o tempo olhando de soslaio para a jovem que sentara ao meu lado, um belo acaso do destino. Não sei como, nem porquê, senti que era o amor da minha vida, meu coração estava a ponto de sair pela boca e nada mais importava, nem a mais doce melodia, nem o mais emocionante filme, seriam capazes de me tocar como aquele momento me tocou. Na saída, me apresentei e a convidei para, na próxima semana, ir ao mesmo cinema.

Hoje sinto que este perdeu a relevância e o poder que tinha, não entendo o motivo. Os filmes duram menos, as pessoas não mais fazem filas para vê-los e muitos cinemas já nem existem mais. Infelizmente, com o tempo, perdi uma das minhas paixões, a outra agora passa apenas filmes estrangeiros, dos quais pouco me interessam. Dói sem tanto perceber que aqueles que um dia foram meu lazer, hoje não passam de um escritório com gente infeliz. Parece que mesmo Capitu compreende e concorda com minhas lamentações, após mais uma olhada ao antigo prédio que guarda tantas histórias, seguimos de volta para casa, com a broa na sacola.

A vizinhança no cinema – Resenha do curta: “Barbante”

Filme juiz-forano aborda a vivência da cidade do interior

por Isabella Barros

O curta-metragem “Barbante”, de direção de Daniel Couto e Samir Hauaji, foi produzido graças à Lei Municipal de Incentivo à Cultura Murilo Mendes, referente ao edital de 2014. O filme é uma homenagem à cidade de Juiz de Fora, mostrando a vida do cidadão brasileiro de cidades do interior. “Barbante” já esteve em dez festivais nacionais de cinema e um festival internacional, em 2016; no ano seguinte, estreou no Canal do Brasil. Além disso, ele conta a participação da renomada atriz brasileira, Laura Cardoso, no papel da avó do personagem principal e do ator Vinícius de Oliveira como o irmão.

O curta conta a história de um menino chamado Zeca (Richard Oliveira), de 13 anos, que está a procura de seu cachorrinho de nome Barbante, ele retrata a persistência do menino na busca de seu animalzinho desaparecido; também, aborda outras particularidades acerca da vida da família. A mãe, Nancir (Márcia Falabella), triste pela morte do marido; o irmão, Zileu (Vinícius de Oliveira), que nunca consegue a namorada dos seus sonhos; o mercador do bairro, Ezequias (José Luiz Ribeiro), que sente falta de seu amigo, pai de Zeca; a única personagem que parece feliz com sua situação e a única que realmente se preocupa com o sumiço de Barbante é dona Hilda (Laura Cardoso), a avó do menino.

Além disso, o curta também retrata questões de classe social, mostrando os bairros da cidade de Juiz de Fora, a história se passa no bairro Poço Rico e vários elementos trazem aspectos desse “interior” da cidade do interior, como meninos jogando bola, a própria mercearia da esquina, o coleguismo entre todos do bairro, a simplicidade da casa dos personagens principais, entre outros.

A produção é muito bem feita, os atores atuam muito bem, incluindo as crianças. Eu, particularmente, gostei mais do começo do curta, me puxou o interesse por eu gostar muito de cachorros, pela presença da Laura Cardoso, por eu ser de uma cidade do interior e por morar em Juiz de Fora. O ritmo do filme é bem rápido, seus 20 minutos passam voando mas preciso admitir que não me fez muito sentido o rumo que a história tomou. Certas cenas pareciam que precisariam de um tempo muito maior para serem desenvolvidas, certos núcleos dela foram pouco tratados que levou a uma certa carência.

O final, principalmente, me deixou confusa ao ver, quando Zeca, finalmente, encontra seu cachorro, o morador de rua (Marcos Pianta) morre, e o menino dá um leve sorriso ao ver essa cena enquanto segura seu animalzinho no colo. A cena final toda é bem confusa, ao menos foi para mim. Barbante, ao meu ver, além do nome do cachorro é uma forma de representar os laços representados no filme, entre a família, os vizinhos, todo o bairro e a cidade. O filme todo é muito interessante, especialmente a forma como ele aborda a realidade de uma cidade do interior e todas as suas peripécias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caso tenha interesse, o filme se encontra disponível na plataforma de vídeo Vimeo e pode ser acessado clicando aqui.

JC_-_Crítica_Cinema_1_Foto_-_Isabella_B.

Dica de filme para o Especial de Cultura da Rádio Facom

por Isabella Barros

Websérie Cinemas de Rua de Juiz de Fora - Resenha de Isabella Barros
00:00

Acessibilidade

Técnica: Vinheta arte e cultura-12”

 

Apresentadora: Olá ouvintes, está no ar o Especial de Cultura da Rádio Facom, ao longo da semana teremos aqui dicas sobre produções culturais da cidade. A dica de hoje é da estudante de jornalismo cultural Isabella Barros, que vai falar sobre cinemas de Rua. Oi Isabella.

Repórter: Olá, juiz-foranos, aqui é a Isabella Barros, sou estudante de jornalismo da UFJF e hoje o programa é sobre os cinemas de rua da cidade.

 

Já ouviram falar na web-série "Cinemas de Rua de Juiz de Fora" do Youtube? A mestre Valéria Fabri, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora fez essa web-série quando ainda estava em seu mestrado.

 

A série tem mais de seis episódios tratando sobre o Cine Theatro Glória, Cine Theatro Central, Cine Palace, Cine Festival e o Cine Theatro Popular.

 

Além disso tem um episódio específico sobre ir ao cinema. Como era diferente antigamente do que é hoje em dia.

Apresentadora: Isabella porque você indica essa web-série para o público, o que ela tem de diferencial?

 

Repórter: Eu particularmente achei a web-série muito interessante, super bem produzida. Ela trabalha bastante esse ponto histórico que eu acho muito legal. E ela fala muito sobre essa diferença de como as pessoas lidavam com ir ao cinema sendo antes muito mais uma forma de convívio social do que apenas ver o filme.

 

Vejo hoje em dia uma mudança bem drástica se considerarmos essa diferença numa sociedade que muito mais valoriza o individual do que o coletivo. Hoje fazemos tudo para evitar sair na rua, até apps de mercado que deixam a compra na porta de casa já temos.

 

Naquela época era muito mais valorizado o ir ao cinema, encontrar pessoas, amigos, namorar. E esse ponto é muito falado na web-série com as pessoas que a Valéria entrevistou, que eu gostei bastante por sinal. Super indico para quem se interessar, só procurar no YouTube “Cinemas de Rua de Juiz de Fora”, inclusive sei que está para sair episódio novo.

 

Então vamos lá assistir, dá um joinha, se inscreve no canal, vamos apoiar o conteúdo produzido na cidade e pela Universidade, né, gente?

 

É isso pessoal, aqui é Isabella Barros e essa é a minha dica pra vocês hoje, até a próxima!

Apresentadora: Muito obrigada Isabella Barros. O especial de cultura da Rádio Facom fica por aqui. Até a próxima dica.

 

Técnica: Vinheta 103,9 FM - 5”

Cidade das Farmácias

Que fim se deu os 30 cinemas de rua de Juiz de Fora

por Isabella Barros

O tempo retirou de cartaz os cinemas de rua da cidade de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. Se antes a cidade era palco de 30 cinemas, hoje em dia, esse espaço está todo reservado às pequenas salas dos shoppings do município. E o que se tornaram as antigas salas lotadas que levaram a tantos o prazer de se ir ao cinema? Lojas, galpões, prédios caindo aos pedaços... e mais lojas. Tudo que se tinha de cultura foi retirado desses monumentos que, de tão esquecidos, se tornaram substituíveis com o passar dos anos.

Apesar da grande mudança que ficou mais nítida com a virada do século XIX para o XX, ainda é possível enxergar reminiscências nos prédios da cidade, daqueles que deram lugar aos 30 cinemas, sua grande maioria pertencia ao centro segundo o levantamento do projeto História do Cinema Brasileiro.

A primeira exibição da cidade, grande comoção e alegria, foi pioneira se comparada à outras capitais brasileiras, datada no ano de 1897, perdendo por pouco mais de um ano dos grandes irmãos Lumière, os pais do cinema, na França. A novidade estreou na rua Espírito Santo, uma das centrais do município, no grande Teatro Juiz de Fora. Seu efeito viciante nos cidadãos foi nítido, muitas companhias abriram, fecharam e foram vendidas nesses 162 anos da história cinematográfica na cidade.

Conhecida como Cinelândia da cidade, a rua Halfeld, o ponto central de toda a cidade, era casa de mais de 5 cinemas de rua. Seu último resquício permanece intacto, o Cine Theatro Central, o belíssimo palco de grandes espetáculos de teatro, dança, ópera e concertos, já passa dos 60 anos e parece ter, ainda, muita história para contar.

Outro cinema repleto de histórias foi o Cine Veneza, apesar do pouco tempo de existência, esse que não mais existe hoje, foi inaugurado no verão de 1987 com o filme “Crocodilo Dundee” de Paul Hogan, residindo na Av. Barão do Rio Branco por mais de 12 anos, sua última exibição talvez reflita suas condições antes do fim, o filme “A Espera de Um Milagre”, baseado da obra do gênio da literatura, Stephen King. As salas eram, diferentemente das de hoje dos cinemas de shopping, compridas, grandes.

Gustavo Burla, ator, comunicador, escritor e grande admirador do cinema, tinha um carinho especial pelo Cine Veneza e lembra de ter visto filme no cinema na saída da escola e da faculdade. “Via tudo o que saía no cinema. Sempre gostei muito do cinema como sétima arte e também sempre gostei muito do espaço físico cinema, e o Cine Veneza foi, por muito tempo, o meu cinema favorito”. O jovem lembra de ir com o avô ver “Os Trapalhões” e com os amigos ver “Mortal Kombat”, de ficar na fila horas para ver o mais novo da saga “Star Wars”, para ser o primeiro a entrar.

A paixão de Gustavo pelo cinema fica ainda mais clara quando ele afirma que sempre se sentava no mesmo lugar, afrente da pilastra, no meio da sala; como adorava ver filmes “de bobeira” durante a tarde, quando lhe aparecia algum tempo livre. Inclusive, relembra a história de quando foi assistir o clássico “Coração Valente” pela terceira vez e, junto dele, havia apenas mais outras duas pessoas em toda a sala do cinema, e como que, por mais que não se conhecessem, estavam ali juntos a rir e comentar sobre cenas do filme. Mais uma vez, comprova-se que os cinemas sempre foram, antes de tudo, um espaço de convívio social, de interação com o coletivo e de união.

Um dos cinemas da cidade que também nos traz esse aspecto é o Cine Paraíso, uma sala de cinema localizada no bairro São Mateus, inaugurado em 1953, o cinema teria funcionado por, apenas, 9 anos, mas sua sede só foi oficialmente fechada e demolida na década de 90. O cinema foi fundado com a ideia de ser uma fonte de renda para o Instituto Maria, uma entidade filantrópica da cidade.

Aos 85 anos, Vânia Derby Dutra, filha do fundador do Cine Paraíso, Orvile Derby Dutra, tinha apenas 18 anos quando o cinema abriu, ela afirma que trabalhou na bilheteria dele enquanto o cinema existiu. “Naquele tempo, como não tinha televisão, a gente tinha fregueses que eram assíduos, da semana inteira ou do mês inteiro, não tinha muita coisa para fazer em casa”; muito provavelmente por esse grande número de espectadores, os filmes em cartaz mudavam a cada dois dias para comportar a necessidade de seus clientes.

“A gente fazia festivais, era um filme por noite, todos adoravam, era muito bom e foi uma época que ajudou muito o Instituito.”, Vânia conta sobre os festivais de filmes argentinos e mexicanos, que duravam uma semana e eram a alegria dos fregueses.

O cinema contava com 600 lugares, um número estrondoso se contarmos com a proporção de um cinema de bairro comum, talvez um dos motivos de seu fim. Depois de um pequeno período de atividade o cinema fechou, as máquinas e as cadeiras foram vendidas, e o espaço foi alugado para a prefeitura. “Teve a chegada da televisão, ninguém precisava se arrumar pra ver televisão, pra ir no cinema tinha que passar batom. [...] E, como na vida tudo se transforma, meu pai decidiu por fechar o Cine Paraíso.”

Como afirmou Vânia, “na vida, tudo se transforma”, se hoje Juiz de Fora é a cidade cheia de farmácias, antes era a cidade do cinema, tão sintomático como passou-se de cultura à doença, talvez a presença de um se relacione com a falta do outro. Os cinemas do município marcaram gerações, dos que esperavam na fila para comprar o ingresso, dos que vinham de outras cidades apenas para ver o filme, dos que paqueravam nas salas de exibição, dos que se acostumaram a ver o filme em cartaz na saída da escola.

A presença da televisão e a onipresença do celular nos deixou cada vez mais entretidos em nosso próprio mundo, cada vez mais individuais. As sessões de filme na TV à tarde tirou parte dos espectadores do cinema e os serviços de streaming, como a Netflix, tirou outra grande parte deles das salas de exibição, de forma que hoje ficar em casa é muito mais prático, barato e confortável assistir a um filme. Entretanto, o que substituirá a magia do cinema, de ver um filme na estreia, de sentir a animação de todos a cada cena, de comentar ou criticar após o fim de mais uma sessão?

Memorial a todos os antigos cinemas de Juiz de Fora: Cinema Excelsior; Cinema Ideal; Cine-Theatro Popular; Polytheama; Espaço Alameda de Cinema; Cine-Theatro Para-Todos; Cine-Theatro Glória; Cine-Theatro Casa D’Itália; Cine-Theatro Auditorium; Cinema São Luiz; Cinema Pharol; Cine Paraíso; Cine Palace; Cine Veneza; Cine Star; Cine São Mateus; Cine Rex; Cine Benfica; Moviecom Alameda; Cine Real Bonfim; Cinema Juiz de Fora; Cinema Festival; Cine Brasil; Salão Paris; Cine-Theatro Variedades; Cinema Halfeld; Cine-Theatro Paz; Cine São Caetano; Éden Juiz de Fora; Cinema Pathé.

JC_-_Edição_Especial_Cinema_Foto_Cine_Pa
JC_-_Edição_Especial_Cinema_Foto_Cine_Ve
JC_-_Edição_Especial_Cinema_Foto_Cine_Th

© 2019 por Carla Baldutti. Jornalismo Cultural UFJF 2019 -1. Orgulhosamente criado com Wix.com

Contate-nos

Obrigado por enviar!

bottom of page